sexta-feira, 25 de maio de 2007

Energia nuclear no Brasil: aprofundando-se o debate


A energia nuclear no contexto internacional
O mundo assiste hoje à retomada da opção nuclear no quadro energético, o que era tido como improvável até bem pouco tempo, resultado da alta no preço do petróleo, receios sobre a segurança do seu fornecimento e, principalmente, de uma preocupação crescente a respeito do aquecimento global. Em contraposição é apontado o fato de que alguns países estariam renunciando ao uso da Energia Nuclear – sendo o exemplo mais citado o da Alemanha. Porém, países como França e Japão caminham em direção oposta e novos reatores serão construídos na Índia e na China. A Austrália, um dos maiores produtores de concentrado de urânio do mundo, passa a considerar a hipótese de ela própria construir usinas nucleares. Assim, novos reatores estão sendo construídos em 13 países e tanto os EUA quanto países da Europa aumentaram a geração de energia elétrica a partir de plantas nucleares já existentes através do processo de upgrade. No aspecto financeiro, os EUA estão oferecendo US$ 2 bilhões em seguros para cobrir eventuais perdas devido a atrasos na construção de plantas nucleares.
É importante frisar que além do combustível nuclear ser um dos mais baratos para as geradoras de eletricidade, a incorporação de avanços tecnológicos no projeto e na construção de centrais nucleares já permite avaliar a redução dos custos de capital no setor e, para diversos países, uma nova central nuclear já é competitiva em relação às demais fontes térmicas. Iniciativas como o projeto “International Project on Innovative Nuclear Ractors and Fuel Cycles” (Inpro) conduzido pela IAEA contribuem significativamente para esse objetivo.
Mais ainda, se na comparação com as unidades geradoras que utilizam combustíveis fósseis ou mesmo com as hidroelétricas, os custos ambientais, inclusive aqueles relacionados às emissões dos gases geradores do efeito estufa, forem levados em conta (desde que esses custos sejam explicitamente reconhecidos) aí a energia nuclear torna-se ainda mais competitiva. Finalmente, o reprocessamento do combustível queimado de centrais nucleares associado à redução da quantidade de radiotoxicidade dos rejeitos; ampliação do uso efetivo e redução dos custos da deposição geológica; redução dos inventários de plutônio e a recuperação de energia ainda presente no combustível nuclear queimado são elementos favoráveis à retomada da geração nucleoelétrica.
O Contexto Energético Nacional: Aspectos Ambientais e Econômicos
Recentemente, a Agência Internacional de Energia Atômica publicou um estudo intitulado: “Brasil: a country profile on suistainable energy development” que pode ser encontrado em http://www.iaea.org/.
No estudo é reportado que, no Brasil, a geração hidroelétrica provém de 433 plantas em operação, sendo que somente 23 plantas com capacidade instalada de mais de 1000 MW respondem por cerca de 70% da capacidade de geração instalada no país. Há ainda um potencial de cerca de 190 GW a ser explorado, todavia com grande parte se concentrando na região Norte, ou seja, afastado dos centros consumidores das regiões Sul e Sudeste.
Se no passado não se dava muita atenção para as possíveis conseqüências ambientais da construção de grandes lagos e barragens, hoje aspectos como alagamento de ecossistemas delicados, reassentamento de comunidades inteiras, perda de madeira e aumento da emissão de gases causadores de efeito estufa passam a ser considerados de forma bem criteriosa. Além de aspectos relacionados com a migração de espécies de peixes, desenvolvimento de ambientes atóxicos, corrosão de turbinas, produção de metano, uso de agentes desfoliantes e herbicidas para impedir o crescimento de algas.
O carvão no Brasil tem reservas modestas e de qualidade relativamente pobre. Das reservas brasileiras de gás natural, de 326 bilhões de m3 em 2004, somente na Amazônia essas estariam sendo exploradas como uma fonte principal de energia. Importante notar que, cerca de 2/3 das reservas de gás se encontram no litoral.
A geração eólica tem no Nordeste e na região costeira do Rio Grande do Sul as perspectivas mais promissoras sendo que o potencial eólico no Brasil pode estar entre 20 e 145 GW. Todavia, apesar das boas perspectivas para o seu aproveitamento, é reportado que os investidores não estariam dispostos a desenvolver novos projetos até que o governo garantisse algum tipo de subsídio.
O uso da biomassa é apontado como uma alternativa promissora. Em janeiro de 2002 havia 159 plantas termoelétricas operacionais com uma capacidade instalada de 992 MW, ou 8% da geração térmica do país.
A energia nuclear no Brasil
O Brasil se constitui na sexta maior reserva de urânio do mundo, com apenas 25% do seu território devidamente explorado o que garante ao país autonomia em relação à produção do combustível nuclear.
Os impactos ambientais causados pela operação de reatores nucleares podem ser considerados mínimos. Claro que é preciso abordar a questão da deposição final dos rejeitos radioativos. No entanto, decisões a respeito das estratégias a serem adotadas a esse respeito se tornam muito mais complicadas pelos aspectos políticos envolvidos e pela percepção da opinião pública de que este problema não tem solução adequada, do que pelos aspectos tecnológicos inerentes. Na realidade, um consenso está sendo formado internacionalmente no sentido de que a deposição desses rejeitos em repositórios de sub-superficie (deposição geológica) é uma opção aceitável. Tanto a Finlândia quanto os EUA já escolheram os sítios para deposição.
Quanto à questão envolvendo acidentes, inicialmente, deve ser considerado que os dois acidentes nucleares mais citados são os relativos à Three Mile Island, nos EUA e Chernobyl (na antiga União Soviética). O primeiro, ao contrário do que se propala, pode ser considerado uma prova da segurança das centrais nucleares, já que a estrutura de contenção impediu que a radiação escapasse para o ambiente. No segundo caso não havia um vaso de contenção, além de o projeto ser de 2ª geração, em contraste com os reatores ocidentais que são de 3ª geração e tem na contenção as 5ª e 6ª barreiras físicas para evitar o escape de radioatividade para o exterior. O que se pode afirmar é que a manutenção dos baixos níveis de risco está, entre outras coisas, associada com a manutenção de uma cultura de segurança operacional e com a consolidação de uma Autoridade Regulatória atuante, que disponha de pessoal treinado, estimulado e bem remunerado, contando ainda com recursos financeiros adequados, o mesmo valendo para os agentes operadores das instalações.
Deve-se também buscar a melhoria contínua das ações de resposta na eventualidade de ocorrência de um acidente nuclear, e se dispor de mecanismos atualizados para lidar com essas situações. Isso implica em planejamento, treinamento e condução de exercícios de forma regular.
Conclusões
Formas alternativas de geração de energia, especialmente aquelas que são consideradas como provenientes de fontes renováveis, virão, no futuro, desempenhar um papel importante no panorama de geração de energia elétrica, tanto no Brasil quanto no mundo. O seu desenvolvimento, contudo, depende da realização de investimentos importantes assim como da concessão de subsídios governamentais. No curto prazo, as formas convencionais de geração de energia, como a partir de combustíveis fósseis e geração hidroelétrica tem a si impactos associados, mais ou menos percebidos pela sociedade que, se contabilizados no custo total de geração, tornam a geração nucleoelétrica uma opção muito atraente.
As questões de segurança ainda representam barreiras importantes para a aceitação da energia nuclear pela sociedade. Isso é causado pelo preconceito da sociedade em relação à energia nuclear oriundo tanto da falta de informação e pela disseminação de informações não consistentes. Há sim estratégias para a deposição final segura dos rejeitos radioativos sendo que os riscos de acidentes nucleares, já bastante baixos, tenderão a diminuir mais ainda se investimentos na área de desenvolvimento tecnológico e de segurança continuarem a ser feitos. Para tanto, o fortalecimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear, no Brasil, é algo imperativo e para isso se concretizar há a necessidade de se investir, não só em formação de mão-de-obra, mas também na reciclagem dos profissionais mais experientes.
A opção nuclear no Brasil, até recentemente defendida na sua perspectiva puramente estratégica, passa a ser importante no tocante à contribuição do ponto de vista da diversificação e regulação termoelétrica, necessária para conferir confiabilidade ao sistema elétrico brasileiro e para propiciar desenvolvimento tecnológico ao país e o que é melhor sem ônus adicional para o Tesouro Nacional. O Brasil passa a ter uma nova oportunidade de explorar a opção nuclear e conferir maior diversificação e confiabilidade ao sistema elétrico brasileiro, cujo primeiro passo é a conclusão de Angra 3, seguindo-se de outras instalações nucleares.



http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=22&id=245




Referências:


1 International Atomic Energy Agency (2006). Brazil: a country profile on sustainable energy development. Vienna. 250p. (www.iaea.org)


2 International Atomic Energy Agency. International Project on Innovative Nuclear Reactors and Fuel Cycles (INPRO) – Status 2005. Vienna 12p. (www.iaea.org)


3 Mattos, J.R. L e Dias, M.S. Brasil nuclear: da estagnação ao crescimento (2006).Energy Information Administration/Department of Energy: http://www.eia.doe.gov/

quarta-feira, 23 de maio de 2007

3.4 A terra dos quilombos


No ano de 1680, um fazendeiro chamado José Trancoso trouxe doze negros africanos para serem escravos e trabalharem na sua fazenda e em troca apanhavam muito. Desses escravos tinha uma mocinha chamada Zacimba Gaba. Ela era princesa da nação de Cabinda, onde hoje fica Angola, o senhor soube da história dessa princesa e proibiu sua saída da casa grande onde apor muitos anos e violentada constantemente, Zacimba, ao longo dos anos, passou a liderar um movimento de libertação, o senhor da fazenda por muito tempo foi sendo envenenado pelos negros e quando Trancoso morreu eles invadiram a casa matando todos, menos a família do senhor. Zacimba comandou a fuga até um lugar bem longe das vilas onde eles eram livres e muitos outros negros fugidos refugiavam no quilombo de Zacimba. No entanto Zacimba estava insatisfeita, pois havia muitos escravos sofrendo em fazendas e navios trazendo negros africanos; aí que teve a idéia de atacar a fonte de escravos que eram os navios negreiros e por muitos anos foi atacando navios e libertando milhares de escravos, mas Zacimba morreu invadindo um navio, cumprindo sua missão e seu ideal.
Em 1880, na fazenda Cachoeiro havia uma escrava chamada Constança. Certo dia a esposa do coronel ouviu o choro do bebê de Constança, ela odiava criança, pois achava que atrapalhava o serviço, foi por isso, em um desses choros do bebê da Constança, a senhora pegou o bebê e jogou dentro de uma fornalha, matando o menino, e Constança gritava falando que ia matar “a sinhá”. Houve uma rebelião e por isso a esposa do coronel foi morar fora da fazenda. Constança foi presa no tronco e apanhou muito, mas foi libertada por um grupo de negros que fugiram e passaram a lutar contra as injustiças da escravidão, lutaram para libertar os escravos e acabar com os capitães-do-mato. Por causa de uma emboscada Constança foi presa, mas depois foi libertada pelos seus companheiros.
Certa vez, à noite, perto do rio Cricaré, Constança e outros negros fugidos estavam preparando a comida quando das matas apareceu Zé Diabo, o capitão-do-mato e estava com um chicote e uma garrucha de dois tiros. Ele e Constança lutaram por muito tempo e os dois acabaram morrendo, ela com o tiro e ele com a garganta cortada. Como prometido, Constança foi enterrada no local, junto com o filho, na Fazenda Cachoeiro.

3.3- Entendendo os escravos


Os africanos eram capturados e separados de sua família, eram vendidos para os portugueses, eram trazidos em navios imundos e muitos morriam de doenças, fome e sede. Eram obrigados a trabalhar na lavoura em troca de nada, os negros africanos eram considerados como mercadorias, seres sem alma e sem direito algum.
Muitos escravos morriam de depressão, as mulheres abortavam para os seus não virarem escravos, suicidavam ou fugiam para a sua liberdade que eram os sub-regimentos dos quilombos.

3.2 O porto de São Mateus


Naquela época se tinha uma mentalidade diferente que se tem sobre a escravidão hoje, mas os negros não aceitavam a escravidão e fica uma incógnita de por que eram “trazidos escravos da África, se aqui existia tantos índios para trabalhar nas lavouras”?
1º- Algumas tribos praticavam a agricultura, outras não conheciam ou não tinham paciência de esperar para colher.
2º- Os índios caçavam ou plantavam para se alimentarem, e os portugueses plantavam para vender e assim os índios não conseguia entender porque eram obrigados a cuidar de uma coisa que não veria mais.
3º- Nas tribos os homens eram caçadores e guerreiros, e as mulheres cuidavam da agricultura. Os portugueses quando fazia os índios escravos obrigavam a trabalhar na agricultura e isso era uma humilhação, pois a agricultura era considerada um trabalho feminino.
O porto de São Mateus era muito importante, pois o rio de São Mateus era usado como a melhor forma de se chegar e sair de São Mateus para os viajantes e os comerciantes; com a produção da farinha houve um aumento da diversificação de produtos e lucro gerando riqueza dos produtos e da vila de São Mateus. A partir de 1800, São Mateus tornou-se uma parada obrigatória para os comandantes de navios; com isso recebiam uma quantidade muito grande de navios, que chegavam para comprar farinha ou vender produtos e também com o aumento da produção e de fazendas cresceu a vinda de navios negreiros.
São Mateus tinha uma relação com Porto Seguro de venda e compra de produtos e foi por isso que São Mateus não apoiou Dom Pedro 1º na Independência do Brasil, pois os baianos foram contra e para não perder seus parceiros comerciais ficou neutro nessas decisões. Hoje em dia São Mateus é uma das cidades capixabas que possuem muitos descendentes de negros.

3.1 Entendendo os donos de escravos


A escravidão existe a milhares de anos e começou no Império Romano; eram considerados escravos prisioneiros de guerra nas batalhas contra outros povos. Os portugueses conheciam essa forma de mão-de-obra, pois fazia parte do Império Romano. Os escravos usados pelos portugueses eram africanos, capturados pelos portugueses ou pelos inimigos nas guerras entre tribos. Até o século 19 a escravidão era um hábito para europeus e brasileiros.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

3.3 - Entendendo os escravos...

Africanos capturados eram separados para sempre de sua família, muitos morriam na travessia acorrentados aos navios. No Brasil eram vendidos por todo o território, onde de nada lembra sua terra natal, apenas guardava seu futuro de dor.

Trabalhavam nas lavouras, longe de casa, fazia com que diversos negros entrasse em depressão e morressem. Isso era chamado de “banzo”. Mas muitos não morriam, mas lutavam como podiam, os mais corajosos fugiam e retornavam para resgatar seus companheiros, chegavam a assassinar os fazendeiros, as grávidas abordavam, cada um lutando como podiam.

Eles conheciam a agricultura, então entendiam o que acontecia ao seu redor, porem nunca aceitaram sua posição. São Mateus foi a região onde mais se viu quilombos, que para os negros era a conquista a liberdade.

3.4 - A Terra dos Quilombos

Ilustraremos agora como era a vida desses escravos com duas estórias reais contadas no livro “Os Últimos Zumbis” de Maciel de Aguiar. Procurando entender melhor a relação senhor e escravo. Porem não levaremos isso como duas únicas formas de convívio.

“Por volta do ano 1680, um fazendeiro de nome José Trancoso trouxe do continente África doze negros para serem escravos em sua nova fazenda. Os escravos trabalhavam muito e em troca só recebiam chibatadas dos capangas do senhor. Uma desses escravos era uma mocinha, “de olhos esfumaçantes”, que os outros negros chamavam de princesa.

O nome dela era Zacimba Gaba. Ela era princesa da nação africana de Cabinda, onde hoje fica o país Angola. Ao saber da estória de ter uma princesa em sua fazenda, o senhor resolveu chamar a mocinha. Ele a interrogou e proibiu sua saída da Casa Grande.Ao longo de anos Zacimba apanhou do senhor no pelourinho do porto de São Mateus; as chibatas cortavam a carne fazendo-a gritar de dor. Os outros escravos da fazenda, que também eram de Angola, passaram a tramar um plano para libertar a princesa, que era violentada pelo senhor constantemente.

Zacimba, ao longo dos anos, foi amadurecendo, e com seu sangue nobre passou a liderar um movimento de libertação dos negros da fazenda de José Trancoso. Por meses, os negros pegaram uma cobra, conhecida como “preguiçosa”, cortavam a cabeça, torravam e moíam tudo, transformando num pó muito fino, que era dado ao senhor na comida, em doses muito pequenas. Certo dia, as dores do senhor começaram; os negros aguardavam o momento certo para a liberdade. Quando Zé Trancoso passou a “gritar feito um boi”, os capangas descobriram que seu patrão tinha sido envenenado. Sabendo que os capangas matariam muitos escravos, até descobrirem a verdade, os negros invadiram a casa matando todos, só poupando a família do senhor.

Zacimba comandou a fuga de seu povo, da fazenda, e andaram pelas matas até Riacho Doce, depois de Itaúnas, lá formando um quilombo, lugar esse onde todos os negros eram livres e trabalhavam na terra, dividindo toda a produção como irmãos. Vários negros de outros quilombos, ou fugidos dos capangas dos outros senhores de escravos, se refugiavam no quilombo da princesa Zacimba. No entanto, a princesa não estava satisfeita.

Ela sabia que o povo de sua terra estava sendo trazido, aos milhares, para ser escravizado no Brasil por brasileiros e portugueses, que achavam que o trabalho era humilhante e por isso tinham que escravizar os africanos, povo forte e guerreiro, que, infelizmente, não possuía as armas de fogo que os europeus possuíam. Foi aí que ela passou a atacar os navios que traziam escravos da África para o Brasil. Esses navios, que precisavam entrar no Cricaré para desembarcar, ficavam na costa esperando a maré aumentar para entrar no rio. Enquanto os navios esperavam na entrada do rio, a princesa Zacimba e seus guerreiros atacavam.

A princesa e outros guerreiros corajosos preparavam as canoas e esperavam anoitecer para o ataque mortal. Quando anoitecia, eles remavam na escuridão até chegarem aos navios negreiros. Os negros vinham trancados em porões, acorrentados, sem água e comida, nus e doentes. Muitos morriam na viagem e eram jogados no mar. Mas Zacimba tinha outros planos para os que chegavam vivos: a liberdade. Atacavam pelos lados, de surpresa, venciam as batalhas pegando os marinheiros desprevenidos, e libertavam os negros. Por dez anos libertaram centenas de negros. Os europeus já não ficavam perto do mar, pois temiam o ataque dos negros do quilombo do Riacho Doce.

A antiga princesa e escrava Zacimba Gaba cumpriu sua missão: ia aonde a opressão, a injustiça, a covardia dos brasileiros e dos europeus estivesse. Para ela, o seu povo deveria continuar livre, e não, viver como escravo, como propriedade de outro, apanhando, comendo mal, vivendo em outro país, longe das esposas e maridos, longe dos filhos e, principalmente, sem liberdade. Zacimba morreu invadindo um navio, cumprindo sua missão e seu ideal, mostrando para todos os negros de hoje que eles devem lutar pela valorização da sua cor, pelos seus direitos e, principalmente, pela igualdade entre os homens.

Uma outra triste estória, envolvendo escravos, ocorrida nos arredores de São Mateus, foi a da jovem Constança de Angola. Ela era escrava do Coronel Matheus Gomes da Cunha, irmão do Barão de Aimorés, que viveu, por volta de 1880, na Fazenda Cachoeiro. Sobre os filhos de escravas, muita crueldade aconteceu. Certo dia, a esposa do coronel ouviu o choro do menino novo de Constança. Ela detestava choro de criança e achava que o serviço atrasava muito com o pequeno tempo em que as escravas precisavam ter para cuidar dos meninos. Por isso, em um desses choros do filho de Constança, a senhora pegou o bebê e saiu andando com a escrava Constança gritando atrás dela, mesmo assim a sinhá pegou o bebê pelos pés e jogou dentro de uma fornalha em brasas. Constança, aos berros, gritava dizendo que ia matar a sinhá.

Os negros tentaram fazer uma rebelião e a esposa do coronel foi morar fora da fazenda; foi para a cidade. Constança ficou dias no tronco, sendo surrada por Zé Diabo, um capitão-do-mato, negro, ex-escravo, considerado pelos negros “traidor da raça”. Ele usava uma capa preta e tinha uma cara assustadora. Constança foi libertada por um grupo de negros fugidos, que estava nas matas, e ficou sabendo do horroroso episódio de crueldade da esposa do coronel Matheus Cunha. Fugitiva, ela passou a lutar contra as injustiças da escravidão. A esposa do coronel voltou para a Fazenda Cachoeiro, porque sua fama de perversa matadora de menino já tinha se espalhado por toda a região, e na cidade ela era recriminada como assassina.

Constança, porém, estava nas matas com vários outros escravos fugidos; eles eram contra a opressão e a maldade dos donos de escravos. Com os outros guerreiros nas matas de São Mateus, lutaram em várias fazendas para libertar escravos e acabar com os capitães-do-mato de cada uma delas. Certa vez, numa emboscada que os fazendeiros prepararam para Constança, ela sofreu um ferimento. Todos os outros negros fugiram e a deixaram no local. Por isso, Constança foi presa na Cadeia Velha (onde hoje é o museu). Porém, em um dia de procissão, na calada da noite, vários negros libertaram Constança da cadeia. O povo da cidade ficou em pânico, pelo perigo e pela “ousadia” dos negros.

Certa vez, à noite, num lugar às margens do Rio Cricaré, denominado Piaúna, Constança e os outros negros estavam preparando o “dicumê” (comida), quando das matas apareceu Zé Diabo, o capitão-do-mato. Ele estava com um chicote em uma mão e na outra tinha uma garrucha de dois tiros. Constança era ótima lutadora de capoeira angola e sempre andava com uma faca muito amolada. Constança balanceava de um jeito que Zé Diabo não tinha como acertá-la com a garrucha de dois tiros. Ele sabia que se errasse ela cortaria a garganta dele. Após muitos minutos naquela ginga mortal, já escurecendo, dentro da mata ouviu-se um tiro. Constança desviou do chumbo como raio e continuou na ginga de capoeira esperando para atacar Zé Diabo.

Ele sabia que se errasse o segundo tiro, já era. Muito tempo se passou, e Constança foi cansando. Foi quando se ouviu o segundo tiro. Quando foram ao local, Constança estava morta com o tiro e Zé Diabo com a garganta cortada. Como o prometido, Constança foi enterrada no local, junto com o filho, na Fazenda Cachoeiro.”

3.2 - O Porto de São Mateus

Não existe exatamente um culpado pela escravidão, a mentalidade da época era essa, mas a escravidão não era algo aceito por todos, nem justa, muito menos que o negro aceitava seu carma. Mas ainda resta uma duvida, porque trazer escravos da áfrica se aqui haviam índios que poderiam fazer o serviço dos africanos?

Então vamos entender o porque era tão complicado ter um índio como escravo no Brasil.

1° poucas tribos praticavam a agricultura, então isso aumentava o descontentamento dos índios, pois estavam sendo obrigados a fazer coisas desconhecidas.

2° os índios caçavam para se alimentar, já os portugueses plantavam cana para exportar, assim mais descontentamento por plantar o que nunca mais veriam.

Mas isso não era falta de inteligência, eles apenas tinham o que precisavam na floresta e não conheciam o modo de vida europeu.

3° para os índios trabalhar nas lavouras era um trabalho para as mulheres, os homens, em todas as tribos, eram considerados guerreiros e caçadores, assim trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar era uma humilhação.

4° os índios caçavam para conseguir alimento para toda a tribo, depois da caça eles voltavam a aldeia e ficavam com seus amigos e parentes. Então quando esses índios eram escravizados, era comum que seus amigos e parentes atacassem atacarem a fazenda para resgatarem esses índios, ou então por si só eles fugiam para a floresta retornando a sua tribo. E o escravo índio não dava lucro aos portugueses, pois eram capturados pelos capangas dos fazendeiros, e não estavam sujeitos a fiscalização. Já os negros africanos podiam ser fiscalizados assim Portugal poderia cobrar tarifas por esses escravos.

O Cricaré é a melhor forma de se chegar e sair de São Mateus, pois não haviam rodovias, era por ele que a maioria doa viajantes chegavam e saiam. Assim o Porto de São Mateus é um local de suma importância na história de São Mateus e do Brasil.

Esse porto era usado para o escoamento da produção de farinha que cresceu a partir de 1750, E os comerciantes compravam cada vez mais produtos de fora chegados pelo porto. Mas Foi basicamente essa produção de farinha que aumentou a riqueza da vila de São Mateus.

Em 1800 São Mateus já era parada obrigatória para muitas embarcações, devido a superprodução de farinha. O Espírito Santo era visto como muito lucrativo, pois não haviam muitas cidades, e essas em desenvolvimento eram vistas dessa forma.

Muitos navios atracavam em São Mateus tanto para comprar farinha, quanto para vender seus produtos. Assim, muitas famílias de lá enriqueceram, e outras saíram da miserai. Em 1828 São Mateus já era a vila mais rica do Espírito Santo.

São Mateus já era mais rica que a primeira vila e a capital. No séc. 19 essa vila se tornou lugar de ótimos lucros, mas foi a chegada de escravos negros pelo porto de São Mateus que mudou as feições da cidade.

Com o crescimento da cidade, cresceu também o comercio de escravos pelo porto, já chegavam navios diretos da áfrica para comercializar escravos. E assim o porto ficou conhecido internacionalmente como lugar de parada dos navios negreiros.

Nessa época São Mateus tinha uma ligação forte com Porto Seguro, e comprava e vendia muitos produtos dessa região norte.

Em 1822 quando D. Pedro I clamou a independência do Brasil, recebeu apoio de varias vilas não comandadas elos portugueses. Mas São Mateus não aderiu a D. Pedro, pois não queria perder a parceria comercial com Porto Seguro. Isso até D. Pedro I enviar uam força militar de 12 homens para averiguar, e saíram de lá com uma carta de apoio a D. Pedro I.

Em 1850 uma lei imperial proibiu o trafego de escravos da áfrica. Assim os navios compravam e vendiam escravos do norte do país para o sul do interior para as capitais. E São Mateus ficava no meio dessas rotas. Os navios paravam lá pra negociar escravos e comprar farinha e revende-la pelo dobro.

Os casarões do porto de São Mateus eram usados para o comercio de escravos. Lá eram humilhados e surrados, uma crueldade feito com um povo descriminado pela cor de pele, um preconceito ainda existente hoje. Hoje ela é a cidade que possui mais descendentes negros, e que isso sirva de lição para que não se repitam os erros do passado.

“Para os descendentes de escravos de São Mateus é importante conhecer o passado e ter a certeza de que, por séculos, a riqueza deste país foi construída também por braços negros. Agora, é com os mesmos braços que se deve exigir igualdade na educação, na saúde e na justiça. Se, antes, a liberdade do negro deveria ser negociada com seu dono, agora é através do voto que todos os descendentes de africanos e brasileiros da forte raça negra têm a oportunidade de exigir não só a liberdade, mas também a igualdade de condições.”